O ensino superior nesses últimos anos no Brasil vem sendo sinônimo de piada. São diversos os problemas que seriam dias, ou talvez meses, ou quem sabe anos os relatando. Mas nesta auto critica, se é que posso chamar assim, prefiro citar somente um dos problemas: O ensino superior modalidade à distância, ou tele-presencial como é popularmente chamado.

O curso que mais se propagou neste tipo de modalidade, foi o curso de administração. Sei bem disso, pois sou acadêmico de administração na universidade federal do Tocantins - UFT e, além disso, estou sempre me informando pelos meios de comunicação a respeito de tal. Vou citar como exemplo, meu estado, onde a universidade do Tocantins – UNITINS oferece esse tipo de modalidade de ensino, a tele-presencial, em mais de 50 cidades. As aulas tele-presenciais na UNITINS são apenas duas vezes na semana com o preço de 220,00 reais a mensalidade. Observo dois fatores que deveriam ser refletidos, tanto por instituições privadas, federais, universitários, conselhos profissionais e principalmente o MEC. Primeiro: será que dois dias na semana é suficiente para capacitar um profissional? Segundo: 220,00 reais é um preço justo para com os acadêmicos que estudam em faculdades de renome e chagam a pagar de 500,00 a 2.000,00 reais pela mensalidade? Sei que o segundo questionamento pode parecer mesquinho de minha parte, pois a maioria dos universitários brasileiros tem poucos recursos, mas o que se deve observar é se essa modalidade de ensino tem qualidade, para não estar caindo no velho ditado popular: comprando “gato por lebre”.

O curso de administração, juntamente com direito e medicina, são os que mais formam alunos e são os mais escolhidos pelos mesmos, e não deve ter seu nome manchado, como qualquer outro curso, por esses tipos de instituições. O fato é claro e não cabe nenhuma discussão, alunos que cursam em modalidade tele-presencial correm os riscos de saírem da universidade despreparados para o mercado de trabalho. Esses acadêmicos da UNITINS, espalhados por mais de 50 cidades, entre outros, espalhados por todo o Brasil neste tipo de modalidade, irão apenas saturar o mercado de trabalho, por culpa de instituições que só visam lucro sem pensar em seus alunos. Veja o caso do curso de direito, por exemplo, não existe modalidade à distância para esse tipo de curso, tem a duração de cinco anos, e mesmo assim na prova da OAB, de 100% dos alunos que a fazem, 90% reprovam.

Acho que o MEC, juntamente com os conselhos profissionais e principalmente nós acadêmicos, deveríamos defender de forma mais ampla nossos interesses, fiscalizando e denunciando esses tipos de instituições, com isso contribuindo com o bom desempenho do profissional de amanhã que somos nós, os universitários. Caso contrário o que iremos ver amanhã? Talvez veremos o curso de medicina com modalidade à distância, com aulas uma vez por mês e com 30 minutos de duração. E seja o que deus quiser dos pacientes.

 

Como citar o texto:

SOUZA, Marcos..Ensino a distância: vilão do velho e bom ensino tradicional. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 3, nº 161. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/trabalhos-academicos/1001/ensino-distancia-vilao-velho-bom-ensino-tradicional. Acesso em 15 jan. 2006.

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