Só para esclarecer: Hugo Chávez é o atual presidente da Venezuela.

Não é que o eminente presidente resolveu fazer profunda reforma no escudo da república venezuelana. Além de instituir uma oitava estrela representando o oitavo estado da nação, S.Exa. desagradou-se com o cavalo do escudo . Afinal, o animal ali representado só olhava para a direita.

Irritado com esse viés ideológico do referido cavalo, consultou sua assessoria sobre a conotação ideológica da olhada. Ao que lhe responderam que o animal já agia assim desde priscas eras, ainda antes dessa diferença ideológica ficar caracterizada pela dicotomia esquerda-direita.

Mas não adiantaram as ponderações da assessoria. Quando não estava viajando para visitar seu ídolo Fidel Castro ou seu grande amigo Lula, Chávez ia para o palácio e era obrigado a defrontar-se com o escudo de sua pátria querida e com o renitente animal olhando sempre para a direita. Realmente era de saturar.

Até que o presidente-coronel (ou o coronel-presidente) resolveu acabar com o problema. E através de um simples decreto (afinal era para isso que detinha o poder), determinou que o quadrúpede fosse obrigado, no escudo pátrio, a olhar para a esquerda, como o fazem todos os que se preocupam com as coisas do povo. E, o animal, a partir de agora, olhará inexoravelmente para a esquerda, sem ulteriores reclamações, sem rebuços, sem contestações.

E os cavalos aqui do Brasil? Poderão continuar dando uma olhadinha para a direita, de vez em quando?

Afinal, as ligações entre o Brasil e a Venezuela têm estados tão estreitas, a democracia venezuelana já foi tão aplaudida e elogiada pelos governantes brasileiros (neles incluídos alguns que já foram defenestrados) que não seria de todo improvável que os cavalos brasileiros sofressem as mesmas restrições dos cavalos venezuelanos.

Aí, dei-me conta que os cavalos brasileiros são diferentes. Claro que os há com belos pescoços, cavalos árabes, de fotografia. Há cavalos marchadores, excessivamente marchadores, que até chegara a originar o dito popular de que, para cavalo marchador, cabresto curto.

E há, sim, muitos, mas muitos cavalos que só olham para a esquerda. É só observar suas fotos, ouvir seus relinchos em entrevistas para o rádio ou a televisão e notaremos como manifestam suas posições à esquerda, sua visão esquerdista de um mundo melhor.

Ah! Mas os cavalos de esquerda no Brasil tem maus hábitos (ou seriam bons, esses hábitos). Adoram Whisky 12 anos. Não se separam de apartamentos de cobertura. Agradecem os Land-Rover que lhes são dados de presente. Viajam com alto padrão. Preferem as melhores alfafas. Afinal, têm hábitos que ficariam bem para qualquer cavalo de direita. Odeiam, esses da esquerda, seus congêneres da direita. Mas, copiam-lhes os hábitos.

Desta forma é pouco provável que aqui, nas nossas plagas, viceje o mau hábito dos cavalos venezuelanos de só olhar para a direita. E, na pouco provável possibilidade de se determinar, aos cavalos brasileiros, que passem a olhar só para a esquerda, a revolta seria geral.

Certamente que ninguém é de ferro. Sempre é bom uma primeira classe de avião aqui, um whiskizinho ali, um carro blindado acolá, e aí vão nossos gloriosos cavalos brasileiros, praticando hábitos de direita, mas ostentando a fotografia de quem olha para a esquerda. Como qualquer bom cavalo venezuelano.

 

Como citar o texto:

ROLLO, Alberto..Os cavalos de Hugo Chávez. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 3, nº 163. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direito-eleitoral/1016/os-cavalos-hugo-chavez. Acesso em 30 jan. 2006.

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