Nessa recente crise de segurança vêm à baila limites para a atuação dos advogados. São eles inculpados por defenderem seus clientes, por manterem comunicação inadequada com seus clientes, por transportarem celulares para dentro de presídios, por servirem como pombos correios para bandidos presos em seus contatos com o exterior.

“Matemos todos os advogados” parece ser a senha desses perseguidores do direito de defesa. Não que inexistam advogados que servem como pombo-correio de criminosos. Eles existem. Há advogados que transportam celulares para presídios e os há que transportam dinheiro em grandes valores pelas estradas do país. E são presos, aliás.

Advogados assim são menos do que advogados. São bandidos, como outros quaisquer, sob paga da criminalidade. Gente que deve perder a carteira e o direito de advogar. Mas, pensar que só eles são culpados pela atual crise, imaginar que são muitos, esses bandidos travestidos de advogados, é lavorar em profundo equívoco.

Ali, dá-se a presidiários o direito de sair dos presídios para visitar mães que já morreram. Acolá, gente da polícia, civis e militares, agentes penitenciários e outros, são corrompidos e servem à bandidagem. Familiares e as famosas “primas” deixam-se usar, até com seus órgãos genitais, para transporte de drogas, celulares e o que mais couber. Mas, os grandes culpados de tudo são os advogados.

Há excessiva permissividade no trato das autoridades com os presidiários. Mas, a culpa é dos advogados, por certo.

Todos têm suas soluções, todos dão seus palpites ( até eu ! ) . Mas, a perplexidade é total. E, afinal, todos somos culpados. Não só a elite branca acusada pelo governador Cláudio Lembo, nem só os marginalizados da educação e da inclusão social, como quer o Presidente Lula, mas todos, todos mesmo, cada um em sua medida.

Há desperdício de dinheiro público, em sanguessugas e mensalões . Há falta de empregos. Há corrupção, há falta de educação até para andar pelas ruas e deixá-las limpas.

Entretanto, o que não se pode fazer é pensar que os grandes culpados são os advogados. Longe disso! Impedir o advogado de ter contato privado e não gravado, ainda que separado por vidro, com seus clientes, é cercear sua melhor defesa. Revista pode ser feita, não no advogado (por que só nele?), nem no juiz, no promotor ou no delegado. Pode e deve ser feita no preso, antes e depois do contato com o profissional que lhe dá assistência.

Detector de metais serve para todo mundo, em qualquer aeroporto do Brasil. E funciona, nivelando todos que se utilizam de aviões. Por que não instalá-los em todos os presídios? Até as famosas “quentinhas” poderiam passar por esses detectores, desde que se lhes tire o papel alumínio do invólucro.

Enfim, cerquemos tudo e todos, mudemos nossa mentalidade e nossa postura diante dessas situações. Mas, perca-se a mania que vem do passado, desde Shakespeare e seu personagem Henrique IV, a quem o poeta inglês emprestou voz e pouco senso para afirmar em uma de suas peças: Matemos todos os advogados!

 

 

Como citar o texto:

ROLLO, Alberto..Matemos todos os advogados!. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 3, nº 179. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/pratica-forense-e-advogados/1275/matemos-todos-os-advogados. Acesso em 21 mai. 2006.

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