O documentário “Falcão – meninos do tráfico”, exibido recentemente na televisão, teve grande repercussão, com manifestações em vários segmentos da sociedade. A filmagem tentou mostrar os bastidores das comunidades dominadas pelo tráfico, focando o envolvimento de menores. Mas há controvérsias e é preciso ficar atento para todo o contexto da situação.

Ao longo de anos, com a vivência que adquiri, posso afirmar que nem tudo que foi apresentado pelo documentário é, funciona ou acontece da maneira que foi mostrada. As entranhas de uma favela são bem piores e os menores que trabalham para o tráfico são perigosos, agressivos e cruéis. Longe de serem criaturas fragilizadas como foram apresentadas. Sei que uma boa parcela da população poderá não concordar, mas podem ter a certeza de que é a mais pura verdade.

Surpreendeu-me a tranqüilidade mostrada no documentário. Isso nos leva a crer que para as coisas saírem daquele jeito foi preciso algum entendimento prévio, o que é preocupante, pois se os autores e diretores do filme fizeram algum tipo de acordo, dando alguma contrapartida para o pessoal do local, a obra torna-se uma grande contradição.

Quem levanta a bandeira da verdade em busca de oportunidade para os excluídos, não pode ceder a quaisquer negociatas. Aliás, foi divulgado que, durante a gravação do documentário, a produção viu pessoas seqüestradas em cativeiro, fato omitido para a polícia. Qual teria sido o preço do silêncio? E as vidas humanas no cativeiro, não têm valor? Quem busca ressocializar meninos envolvidos com o narcotráfico, não se importaria com as três vidas em apuros?

As impressões que ficaram foi a que os diretores do filme priorizaram a oportunidade de um furo de reportagem em detrimento às vidas humanas que apareceram no caminho. E isso é grave.

 

Como citar o texto:

ESPÍNOLA, Marcos..Falcões perigosos. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 3, nº 184. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/cronicas/1350/falcoes-perigosos. Acesso em 24 jun. 2006.

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