Freqüentemente nos abatemos com os problemas de nosso cotidiano, permitindo que pequenas decepções alterem nosso humor, e, não raro, muitas pessoas chegarem ao final de seus dias de trabalho acumulando, além de cansaço físico e mental, a sensação de que o dia foi ruim, pouco produtivo ou extremamente turbulento.

Este balanço final que se faz de cada dia, com resultado negativo, possivelmente está ligado à perspectiva que desenvolvemos sob os acontecimentos diários. Os profissionais do Direito estão demasiadamente expostos a esses riscos, especialmente porque duelam teses em seus processos com os demais profissionais e, com relativa regularidade, sucumbem com suas pretensões e idéias.

Daí emerge um sentimento de frustração, às vezes, bem maior do que o de inconformismo que alimentaria a renovação e revitalização de argumentos que possam, em outra oportunidade, fazer prevalecerem as teses que lhe parecem acertadas.

Recorda-se de algum time que tenha vencido um longo campeonato, não apenas invicto, mas registrando somente vitórias? Não estamos falando de competições rápidas como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, com duração de pouco mais de um mês, mas de longos campeonatos com duração de um ano e dezenas ou centenas de partidas, ou de rankings, como o do Tênis. Mesmo o número 1 do ranking não terá sido derrotado em alguns jogos em sua trajetória? Essas derrotas desmerecem o profissional?

Isto não quer dizer que as derrotas não tenham importância em nossas vidas, com elas podemos aprender mais do que em cursos de média duração; para tanto, basta que façamos uma reflexão ponderada de cada lance daquela partida. Mas, com certeza, nossos dias não apresentam apenas derrotas, certamente, realizamos de modo exemplar ou satisfatório muitas atividades, logramos várias pequenas ou grandes conquistas em cada semana de trabalho, mas nem sempre estamos atentos a cada uma delas.

É como se vencer fosse uma corriqueira obrigação, cujo resultado não é visível ou não é valorizado por nós mesmos. E assim, uma simples derrota vale, em nosso balanço, muito mais do que várias vitórias. Ficamos tristes e abatidos mesmo com pequenas derrotas. Muitas pessoas até entram em processo depressivo. Porém, inversamente, não regozijamos as pequenas vitórias que no máximo nos proporcionam flashes de alegria tão velozes que quem está à nossa volta sequer percebe nosso rápido sorriso.

Se uma pequena derrota é, às vezes, capaz de alterar nosso humor, só as vitórias extraordinárias nos impulsionam a momentos de celebração. A lógica da vida nos diz que seremos felizes se sorrirmos mais do que chorarmos, e mais ainda, se parte dos nossos choros forem de alegria.

Se isto é verdade, e acreditamos que seja, então por que não reposicionarmos a perspectiva sobre os acontecimentos de nosso dia-a-dia, dando mais valor às conquistas, pequeninas ou extraordinárias? O resultado desse esforço será um balanço mais positivo, uma sensação mais agradável, mais simplicidade, mais sorriso, mais felicidade.

Um Natal feliz e fraterno, e que em 2005 você sorria muitas vezes a cada dia.

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Como citar o texto:

ASDRUBAL JÚNIOR.O valor da conquista. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 2, nº 106. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/pratica-forense-e-advogados/419/o-valor-conquista. Acesso em 13 dez. 2004.

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