Tem cartão amarelo e vermelho, mas falta é do jogo. Dito popular, coisa de várzea, como também é popular que o jogo deve ser jogado. Time que bate muito, joga pouco e esta deve ser a lógica do futebol (se é que existe lógica do futebol!).

Se fossemos falar de padrões de conduta, poderíamos dizer que fazer falta no futebol não agride a ética. Uma falta aqui, outra lá, não traz muito prejuízo, o futebol é esporte de contato, e como mencionado: - Falta é do jogo.

É muito tupiniquim contextualizar o cotidiano numa bola, porém no jogo político, a ética do futebol está ali com os nossos parlamentares.

Quem detém o poder não tem porque ficar constrangido por um favoritismo, um apanigüamento, em troca de uma propina na algibeira, na mala, num paraíso fiscal, ou, mais presente, nos cueiros! Afinal de contas, a própria história absolve. A corrupção é uma endemia - falta é do jogo – o problema é cultural!

Quem não fizer uma falta eventual, não ganha a partida e o pior de tudo é que na atual crise política, vemos claramente que tem jogador jogando nada, batendo até na sombra. “- Pede pra .... , bem, ....pede pra sair”. Desculpe, não quis ser chulo, mas para preservar o mandato-nosso-de-cada-dia (ou o próximo)...Me diz: - Futebol e política não estão ali-pra-ali?!

 

Para complicar – agora literalmente no futebol – compraram o apito do juiz. É de arrepiar: Onde há poder, há corrupção. Trocadilho barato mas, futebol é coisa séria e a política, um caso sério!

Antes de uma crise política, vivemos uma crise ética, onde os padrões de conduta para determinados segmentos são totalmente diversos dos esperados pela sociedade. No campo político, isto se explica pela fuga da legitimidade do mandato representativo, onde a vontade do eleito e do eleitor são por vezes opostas.

A despeito disso, é necessário ter uma visão mais ampla para não se incorrer no risco de procurarmos soluções arbitrárias, antidemocráticas para os problemas atuais.

Somos uma democracia nova, que ainda sofre as mazelas de uma cultura ditatorial, elitista, excludente, desigualitária. Onde a sociedade brasileira procura se desvencilhar de uma consciência política que se resume a depositar o voto em uma urna.

Entre mortos e feridos, resta-nos a transparência como saldo positivo de tudo o que está acontecendo. Mesmo com reservas, as comissões de inquérito do parlamento estão proporcionando tal transparência, assegurada, sobretudo, pela pressão dos veículos de mídia jornalística.

Mais que isto, a audiência proporcionada pelos escândalos políticos, ainda que de forma singela, demonstra o interesse do cidadão pelo o que de fato ocorre no poder constituído.

Por fim, é claro que a indignação pública frente ao descaso com a democracia, com a sociedade e com a própria política, exige mais do que manchetes em um noticiário. A punição é de ordem, devendo esta refletir uma atuação conseqüente e “moralizante” tanto das comissões de ética em sede de parlamento, como também, do Poder Judiciário ao passo que acionado, pois voltando à linguagem do futebol, “ainda há tempo pra correr atrás do prejuízo” e já está mais no que na hora de “distribuir os cartões”.

 

Como citar o texto:

GOMES, Emerson Souza..Falta é do jogo. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 2, nº 147. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direito-desportivo/824/falta-jogo. Acesso em 10 out. 2005.

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