Brasil: a décima economia mundial

Por Marcelo Harger

Recentemente noticiou-se que o Brasil passara a ser a décima economia mundial. Os representantes do Ministério da Fazenda, contudo, mais animados chegaram a afirmar que o Brasil passara a ser a oitava economia. Os cidadãos mais antigos, que aprenderam na escola que o Brasil era a oitava economia mundial, certamente receberam a notícia com menor animação. Os mais novos, contudo, que se acostumaram a ver o país na décima terceira ou até na décima quinta posição, contudo, devem ter recebido a novidade com um ânimo muito maior.

 

As diferentes colocações no ranking econômico mundial da nação brasileira, contudo, devem-se menos ao desempenho econômico e mais aos critérios adotados. Não há um critério único para estabelecer o ranking da economia mundial. De acordo com o critério, alteram-se as estatísticas e, com isso a posição do país sobe ou desce no rol de potências econômicas.

O governo utiliza como ferramenta de marketing as estatísticas que o beneficiam. A oposição, por sua vez, rebate utilizando números que rebaixam o país de categoria. Cria-se, por intermédio dos dados econômicos desencontrados, um verdadeiro samba do afro-descendente mentalmente incapacitado (atualmente dizer samba do crioulo doido é politicamente incorreto).

A situação causada pelas confusões estatísticas é tamanha que traz a lembrança uma anedota.

Certa vez um súdito embriagado dirigiu-se ao rei omitindo vários de seus nomes e títulos. A ousadia do “bebum” foi tamanha que chamou o rei até mesmo pelo apelido.

Ofendido, o rei imediatamente mandou cortar a cabeça do súdito. O condenado, já seguro pelos guardas clamou estar sendo injustiçado. Ao ouvir a crítica o rei prontamente respondeu que o castigo mal pagava o crime, pois o injustiçado era ele próprio. Explicou prontamente que, ao omitir os nomes e títulos, o acusado havia apagado em uma só frase seiscentos anos de linhagem real. Acabara transformando a árvore genealógica do soberano em um arbusto. E mais. A omissão implicava que uma única insolência havia reduzido em 2/3 o domínio real.

Após essa explicação, o irritado rei conclui que em troca disso pedia a cabeça do acusado que representava apenas 1/6 de seu corpo. Nada mais justo, portanto. O bebum foi decapitado convencido de que tinha feito um bom negócio.

Lembrar essa anedota, extraída de uma crônica de Luis Fernando Veríssimo, é importante porque ela traz implícita uma mensagem: desconfie das contas do poder. Os números não mentem, mas as pessoas sim.

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Sobre o autor:

MARCELO HARGER, advogado em Joinville, professor universitário, mestre e doutorando em direito do estado pela Puc/SP e ex-conselheiro do Conselho de Contribuintes de Santa Catarina.

 

 

 

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