Crônica: "Vende-se" uma vaga de emprego em conceituada empresa...

Este é o anúncio apropriado para o tipo sórdido de apoio de trabalho que enfrentamos em nosso país.

Tenho saudades do tempo em que se pegava um anúncio no jornal e íamos diretamente ao RH de uma empresa para conseguir um emprego digno.

Hoje o que vemos, são agências que não tem o mínimo de respeito pelo cidadão desempregado e consultorias que se valem deste nome para oferecer vagas de emprego que não existem e, muitas vezes pactuados com funcionários de empresas para garantir seus altos lucros.

Isto mesmo. Oferecem vagas de empregos, cooptam nomes, endereços, e-mails e telefones das vítimas aleatoriamente, e dizem que mediante pagamento à vista de valores que variam entre R$ 600,00 e R$ 2.000,00, a pessoa estará empregada (não garantem a contratação); e dizem os responsáveis por esta ¨arapuca¨ que referida taxa é para treinamento e preparação do candidato para a vaga, incluindo-se testes psicológicos; chegando ao desplante de afirmar que tudo é feito com conhecimento e anuência do Conselho Regional de Psicologia.

Vítimas deste golpe se conhecem muitas; e não é recente, ainda mais a partir de 1990, quando a economia brasileira começou a fraquejar e o mercado de trabalho entrou em acentuado declínio.

E as promessas são tão milagrosas, que as vítimas na ansiedade de voltar a receber salários e ver a cor do desaparecido dinheiro (necessidade mínima de sobrevivência), acabam por ser ludibriadas e facilmente caem na armadilha. São lesadas, até pessoas de bom nível de discernimento, como médicos, advogados, engenheiros, arquitetos, professores, etc.

Uma das vítimas declara: ¨Não cheguei a dar dinheiro, não desta vez, quando em 28/11 p.p., fui ter uma entrevista a convite deles, que me descobriram aleatoriamente na internet, e ligaram dizendo ter o emprego certo para mim, com salários mensais superiores a R$ 4.000,00, mais as vantagens de praxe, e pelo que eu deveria pagar R$ 1.500,00 à vista. Argumentei sobre poderem pegar até todo o salário inicial posteriormente à contratação, e não aceitaram¨.

Ainda mais pasmo fiquei, quando, por coincidência, reconheci um ex-cliente dentre os atendentes ludibriadores, e que em conversa reservada, me disse claramente que referida empresa não tem credibilidade, em que pese ter suntuoso escritório na Avenida Paulista; não cumpre o que promete e que volta e meia vão parar todos na Delegacia de Polícia, onde prestam esclarecimentos, às vezes até fazem acertos com policiais inescrupulosos, e vão embora dando risada das caras dos ‘idiotas’ que em alguns casos, chegam a vender bens pessoais extremamente indispensáveis e/ou tomar dinheiro emprestado dos parentes, que pouco dinheiro tem, para pagar a malgrada taxa.

É importante frisar que, dentro de uma economia bagunçada, de um desemprego crescente e sofrimento enorme de cidadãos por falta de dinheiro, empresários que contratam e fomentam este tipo de picaretagem são indignos de qualquer consideração e respeito; e, pior que isto, é as autoridades ficarem inertes, vendo o pobre trabalhador ser enganado, enfiando-se mais ainda em dívidas, para dar dinheiro a “larápios impiedosos”, que aproveitam à fragilidade e necessidade alheia para perpetrar golpes sem a intervenção de nossas autoridades.

Espera-se que tomem medidas imediatas contra isto, inclusive elaborando lei, se for o caso, proibindo a cobrança de taxas a este título antes da contratação.

Se contratado; o indivíduo pagará pelo serviço, sem contrato não. Isto sempre significa decepção e sofrimento ainda maior quando se percebe ter sido lesado.

Sem contar que, quando se propõe o pagamento posteriormente à contratação, com os salários, são veementes em não aceitar. Claro, não aceitariam mesmo, até porque não têm o emprego que prometem, tal é só argumentação para a concretização do crime.

E até quando, não já passou da hora de coibir tal prática?

Aguardam-se providências, e se cada um de nós fizer o que está ao alcance, certamente muitos homens de bem não cairão neste golpe nojento, até porque é fácil cair, dentro da sordidez que usam até instalando suntuosos escritórios nas regiões nobres das grandes cidades e capitais.

São Paulo, 04/12/2005.

Arnaldo Xavier Junior – advogado, poeta, escritor, articulista, etc.

Sandra Coelho Franco – Escritora e pós-graduanda em letras.