Assédio Moral no ambiente de trabalho: efeitos do assédio na vítima

Por Riad Semi Akl e Fabíola Alessandra Berton Akl

O assédio moral desencadeia uma série de conseqüências na vítima, de natureza fisiológica e psicológica. Tais efeitos dependem diretamente do tempo de exposição da vítima ao assédio moral, bem como da intensidade das agressões sofridas.

Estudiosos do tema apontam que, sendo o assédio recente e ainda havendo a possibilidade de sua reparação, a vítima comumente apresenta os mesmos sintomas encontrados nas pessoas que sofrem de estresse, tais como cansaço, nervosismo, doenças do sono, enxaquecas, distúrbios digestivos e dores na coluna. Em última análise, entende-se que tais sintomas nada mais são do que reações fisiológicas advindas dos estímulos aplicados à vítima, pois, à necessidade do organismo de se adaptar à nova realidade apresentada para que melhor a suporte, soma-se a sensação de impotência e humilhação da vítima. Nesta situação, a vítima tem uma recuperação mais rápida se logo afastada do agressor ou se este se desculpa pelo ocorrido, situação esta mais rara, não causando comprometimentos a longo prazo.

Ao contrário, em situações em que o assédio moral é prolongado ou recrudescente, é freqüente a ocorrência de um quadro clínico de depressão, no qual a vítima passa a apresentar características como apatia, tristeza, complexo de culpa e até a depreciação de seus próprios valores. A vítima que se encontra neste quadro tende a esconder tais sintomas até mesmo de seu médico, pois, entre as vítimas, é comum o sentimento de vergonha por não atender mais às expectativas de seus superiores hierárquicos, o que acaba por incrementar o risco de suicídio.

Outra conseqüência comum resultante do assédio moral é o sentimento de vergonha de modo generalizado. Nota-se que tal sentimento vem desacompanhado do sentimento de ódio pelo agressor, sendo também comum que as vítimas tenham vontade de se afastar das demais, fato que aumenta a dificuldade das vítimas de se expressarem, principalmente quando a agressão é individual. É comum, ainda, que a realidade vivida pela vítima seja mais cruel do que seu relato, pois não é rara a ausência de palavras para descreverem sua situação. Ademais, a vítima sofre pelo fato de não ter sabido como ou o que fazer para que o assédio cessasse, especialmente quando a vítima só o percebe algum tempo após seu início.

Mais uma conseqüência do assédio moral percebido na vítima é o abalo em sua auto-estima.O agressor, por muitas vezes, para atingir seu objetivo, utiliza-se de ironias ou de linguagem dupla, o que enseja na vítima dúvida sobre o que é ou não verdadeiro nas palavras proferidas a ela no ambiente do trabalho. Essa conduta nada mais é do que uma técnica de assédio moral, através da qual se busca a imobilização funcional da vítima, fazendo com que ela não entenda a informação dada. Outros exemplos da técnica ora em tela é a utilização de injunções paradoxais, como criticar certo funcionário por não trabalhar sem lhe dar os instrumentos necessários ou, ainda, atribuir-lhe tarefa que sabe-se inútil face à função que deveria exercer, ou, ainda, criticar sua atuação, sem especificar as razões em que se sustenta a critica.

Quando se refere à desvitalização, faz-se alusão ao quadro de depressão crônica instalado na vítima, em que esta pensa nas situações pelas quais passou e, remoendo tais sentimentos, questiona-se sobre o que fez para ter chegado a essa situação. Neste estado, é comum a vítima sentir-se desmotivada com a própria vida e sem disposição para atos rotineiros. A vítima perde o impulso pelo movimento, pois está imobilizada pelas agressões, quadro que alguns especialistas chamam de assassinato psíquico. Como se não bastasse, a vítima carrega dentro de si parte do agressor, representada por palavras e atitudes.

É comum, ainda, que as pessoas assediadas, por muitas vezes, caminhem para a rigidificação da personalidade, tornando-se desconfiadas, pois, a exemplo do que se passou, não se deseja uma nova experiência semelhante. A experiência ensina a ser prudente; ressalte-se, porém, que a linha entre a desconfiança legítima e a paranóia induzida é muito tênue. No caso do assédio moral, toda vez que há a necessidade exigida pela situação de permanecer excessivamente na defensiva, é bastante provável que surja uma desconfiança excessiva, assim como a rigidificação da personalidade.

Como todo trauma ou humilhação reiterada, o assédio moral pode produzir uma agressão psiquiátrica e levar a vítima a delírios transitórios. Acaba então por caracterizar-se de uma patologia delirante, composta por alucinações auditivas e psíquicas, num quadro de mania de perseguição conhecido como psicose alucinatória crônica.

Os danos causados pela prática do assédio moral vão além da pessoa da vítima, estendendo-se também ao seu patrimônio, às suas relações pessoais e à própria empresa ou estabelecimento em que trabalha.

No momento em que a vítima encontra-se envolvida pelo assédio moral, ela acaba por diminuir sua capacidade laborativa na medida em que as agressões passam a fazer parte de seu cotidiano, sendo que tais efeitos que se manifestam na saúde da vítima acabam por gerar prejuízos em seu patrimônio, pois a vítima deixa de auferir diversos tipos de ganhos, como gorjetas, comissões, participações, prêmios, dentre outros. Quando as agressões estão consolidadas e a saúde da vítima passa a ser atingida mais substancialmente, as licenças médicas passam a fazer parte também de seu cotidiano, o que contribui com o prejuízo sofrido pela vítima, que passa a arcar com medicamentos e tratamentos específicos. Isso sem mencionar a possibilidade de a vítima ser demitida pela baixa produção ou pela sua não adaptação à empresa.

Ainda no tocante aos danos sofridos pela vítima, deve-se traçar também os efeitos resultantes de tal agressão em seu âmbito social. O assédio moral atenta prontamente contra a dignidade da vítima, ocasionando graves danos à sua saúde e ao seu patrimônio. É muito comum que o assédio moral devaste o círculo social da vítima, seja o familiar ou de amigos. Como sofre as repercussões do processo de agressão já mencionadas acima, é conseqüência ter uma dinâmica comportamental alterada, o que acaba por ocasionar um afastamento das pessoas que lhe são queridas, em especial no âmbito familiar.

Isso porque os danos sofridos pela vítima impulsionam-na a um isolamento da sociedade, não demonstrando interesse em qualquer evento social do qual costumava participar. Tal fato acaba por agravar ainda mais a situação da vítima, pois teme ser apontada como fraca ou covarde. É comum, ainda, os amigos e familiares desconhecerem os fatos pelos quais a vítima passou, pois esta prefere o isolamento e o silêncio e minar sua convivência social e seus vínculos afetivos.

Sobre os autores:

 

Dr. Riad Semi Akl e Dra. Fabíola Alessandra Berton Akl

Advogados integrantes do escritório AKL ADVOGADOS (Trabalhista/Previdenciário/ Contencioso Cível/Família e Sucessões/Consumidor/ Consultas Jurídicas)

 

Como citar o texto:

Assédio Moral no ambiente de trabalho: efeitos do assédio na vítima. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 5, nº 291. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/fique-por-dentro/9320/assedio-moral-ambiente-trabalho-efeitos-assedio-vitima. Acesso em 13 mar. 2007.

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