Não existe crise ética na política brasileira
Murillo Evandro de Andrade
Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, a palavra “ÉTICA” significa: “o estudo dos juízos de apreciação que se referem a conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”
Etimologicamente, ética vem do grego “ethos” e tem seu correlato do latim “morale”; às duas palavras possuem o mesmo significado: conduta, ou relativo a costumes. Pode-se então concluir que ética e moral são palavras sinônimas.
Na política brasileira esta palavra tão pequena, mas com tamanho significado baseia-se nas circunstâncias e, principalmente de que lado você está, do lado da situação ou da oposição. Na ética política tudo é possível, pois em política como estamos observando diariamente tudo vale.
A absolvição do Senador Renan Calheiros foi a concretização da impunidade e da falta de ética que impera na política brasileira quando se tenta punir políticos, onde os próprios colegas servem de escudo para barrar possíveis punições, uma verdadeira imoralidade corporativa.
Durante décadas vivenciamos uma bandalheira política repleta de escândalos, roubos, fraudes em licitações, formação de quadrilhas, desvios de verbas e que em sua grande maioria os criminosos não foram punidos.
Estes crimes não acontecem somente em Brasília não! Esta falta de identidade moral dos políticos brasileiros está cada vez mais perto, e ramificada nas mais interioranas cidades da República. Alguns Vereadores de verdadeiras cidadelas aprenderam a desviar verbas, outros das Capitais fazem caixa dois recebendo parte dos salários de seus funcionários, que são obrigados a devolverem até 80% de seus rendimentos. Prefeitos superfaturam obras, Deputados recebem dinheiro para votar projetos de interesse do Executivo, e agora, Senadores envolvidos com lobistas que pagam suas despesas particulares e tendo participações duvidosas em rádios, o que é proibido a parlamentares.
A decisão do Plenário do Senado Federal em absolver o Senador Renan foi o golpe mortal na credibilidade da mais importante Casa Legislativa do Brasil. O Senado Federal perdeu uma grande oportunidade de resgatar a ética e mostrar que está em sintonia com o pensamento da população brasileira não aceitando mais políticos descompromissados com a ética, moral e com a sociedade.
O que mais chamou a atenção na absolvição do Senador Renan foram as abstenções de votos, o que significou uma verdadeira atitude covarde de alguns senadores. Abster-se de votar em um episódio tão sério como este, e ainda em seção secreta, tal atitude beira a canalhice. Não entendo como um senador que toma decisões importantes para a Nação, não tem uma opinião formada depois de tudo que leu, que ouviu, depois de tanta investigação e de tantos dados apurados.
Outro dado que surpreende foi o resultado do Conselho de Ética do Senado que condenou o Senador Renan por quebra de decoro parlamentar com um resultado amplo de 11 votos a 4, mas foi absolvido em plenário, sendo considerado inocente por seus pares, com um resultado de 40 votos pela sua absolvição contra 35 a favor e 6 abstenções.
Renan Calheiros ainda possui outras três representações no Conselho de Ética, sendo uma delas a suspeita de ter atuado junto ao INSS e na Receita Federal em favor da cervejaria Schincariol, outra investiga se o senador é proprietário de rádios em Alagoas e a terceira sobre arrecadação irregular de dinheiro dos ministérios do PMDB.
Não é só o senador que tem representações no Conselho de Ética, membros de sua família também estão envolvidos em supostos crimes. Seu irmão o Deputado Olavo Calheiros sofreu investigação da Policia Federal na operação Navalha, acusado de fraudar licitações de obras públicas executadas pela empresa Gautama, podendo ter seu mandato cassado.
Já o filho do senador, Renan Calheiros Filho trilha o caminho contrário da ética. Vereadores da cidade de Murici/AL onde Renanzinho é Prefeito querem seu afastamento para apurar denuncias de crime de improbidade administrativa prevista na lei 1049.
Renanzinho está sendo acusado de desviar recursos do programa de cestas básicas e de utilização de notas frias de postos de gasolina para encobrir desvios de dinheiro. A Câmara Municipal de Murici quer ainda apurar o destino de recursos milionários gastos em festas na cidade sem licitação ou previsão de despesas. Isso é que se pode chamar de imoralidade ética familiar.
Nos moldes políticos atuais existem duas éticas, a descrita no dicionário Aurélio e a do “Dicionário Político”. No primeiro, ao contrário do segundo, ética refere-se a “uma conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal”, não se enquadrado para certa classe política, que se consideram “Deuses acima do bem e do mal”. Para estes políticos não existe ética ou moral que abale suas consciências.
Portanto para alguns Senadores e Deputados, não existe crise ética na política brasileira, mas para nós simples mortais e eleitores, não existe ética na crise política brasileira.
Redação
Código da publicação: 9351
Como citar o texto:
Não existe crise ética na política brasileira. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 6, nº 322. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/fique-por-dentro/9351/nao-existe-crise-etica-politica-brasileira. Acesso em 15 out. 2007.
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