A produção e o consumo de bebidas alcóolicas tem sido uma prática comum em todos os tempos e em todos os lugares. Desde a Antiguidade, todos os povos conheceram a técnica de seu preparo e fizeram uso freqüente de bebidas etílicas.

Na Babilônia e no antigo Egito, na Grécia e em Roma beber fazia parte do cotidiano daquelas sociedades já tão distantes no tempo. Gregos e romanos não só as consumiam excessivamente, como chegaram a divinizar a embriaguez pelo álcool, especialmente, pelo vinho. Os primeiros, possívelmente inebriados pela ação tóxica do álcool no córtex cerebral, criaram o deus Dioniso, que os acompanhava nas festas e orgias regadas a um bom vinho. Em sua face divina, Dioniso representava a vinha e o seu sangue, o vinho.

Já os romanos, também inebriados pela ingestão de infindas doses de um irrecusável tinto, produzido na Toscana, não deixaram por menos e também criaram Baco, o seu deus do vinho. Num certo momento, o culto a Baco, visto como um deus salvador, tornou-se tão forte entre as mulheres, os pobres e escravos romanos que os imperadores procuraram proibi-lo.

Com o Cristianismo, o vinho continuou sendo um produto largamente consumido. Um dos milagres de Cristo, segundo o Novo Testamento, foi a transformação de alguns potes de água em vinho.

Na verdade, desde a Antigüidade até o presente, quase todos os povos, dos mais atrasados aos mais avançados, dominaram a técnica da produção de algum tipo de bebida alcoólica, sendo comum a prática de seu uso excessivo. Mesmo o nosso indígena, que sempre viveu uma vida culturalmente simples e natural, não deixou de produzir o cauim, obtido do liquido fermentado da mandioca (ou de outros frutos e raízes) e que é ingerido até a embriaguez, nas festas grupais.

Hoje, não é diferente. O consumo de bebida alcoólica mantém seu espaço privilegiado na vida do homem contemporâneo. Sua produção utiliza tecnologias das mais apuradas e cada povo tem a sua bebida nacional, com direito à propaganda mais sofisticada. A grande maioria das pessoas adultas consome algum tipo e alguma quantidade de bebida alcoólica. As festas comunitárias e religiosas e reuniões familiares - casamentos, batizados, aniversários - parecem inconcebíveis sem bebida alcoólica.

Atualmente, estamos presenciando uma verdadeira vaga consumista de vinho. Após estudos demonstrando que o vinho ajuda a combater os riscos do colesterol e da hipertensão, virou moda tomar e falar sobre vinho. Como na propaganda de cerveja, devo dizer que, moderadamente, uma boa taça de tinto não faz mal a ninguém. Confesso que gosto de um bom vinho.

No entanto, moderação é preciso, conforme apelo das próprias campanhas publicitárias para vender mais a marca ali anunciada. Infelizmente, nem todos conseguem o controle de sua vontade compulsiva para o etilismo e isto ocasiona sérios prejuízos, seja de ordem individual ou social.

Há muito o Ministério da Saúde, vem enfatizando que os males resultantes do uso abusivo de bebidas alcoólicas não se limitam apenas ao Alcoolismo ou Síndrome de Dependência do Álcool, que atinge diretamente o alcoólatra. Estudos têm demonstrado outras conseqüências individuais ou coletivas bastante graves, resultantes do etilismo: aumento dos índices de acidente de trânsito e do trabalho, queda da produtividade dos trabalhadores, desorganização e desagregação familiar, desvios comportamentais acentuais.

Estes são alguns dos efeitos que incidem sobre o indivíduo, a família e toda a sociedade e que exigem vultosos recursos financeiros para o tratamento e a reabilitação (nem sempre possível!) dos atingidos direta ou indiretamente pelo alcoolismo.

Por outro lado, estatísticas indicam que o alcoolismo está entre as principais causas de internação em clínicas psiquiátricas, só perdendo para as neuroses. É, também, fator de maior índice de delinqüência. A Criminologia tem realizado estudos que demonstram uma relação inevitável entre alcoolismo e delinqüência. Em muitas comunidades tranqüilas é fácil perceber o aumento da criminalidade violenta durante os finais de semana, em virtude do maior consumo de bebida alcóolica. A embriaguez é, também, fator de maior número de acidentes de trânsito.

Trata-se, indiscutivelmente, de um dos grandes vícios da Humanidade. Assim, se beber é bom, não beber é melhor ainda. Por isso, podemos concluir dizendo felizes aqueles não bebem.

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Como citar o texto:

LEAL, João José..Alcoolismo: vício da Humanidade?. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 2, nº 115. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/cronicas/503/alcoolismo-vicio-humanidade. Acesso em 20 fev. 2005.

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