Teria sido bom para o país se Roberto Jefferson e a secretária Fernanda Karina tivessem mentido. Faria bem para a nação brasileira e facilitaria as coisas. Se assim fosse, os dois seriam responsabilizados por suas mentiras caluniosas e a República estaria caminhando em direção à moralidade. Lamentavelmente, não está sendo assim.

A maré de denúncia de atos de corrupção, envolvendo o governo e o Partido dos Trabalhadores, continua aumentando a cada dia. Agora, muitas das graves denúncias estão estribadas em provas documentais. Constituem evidências irrefutáveis das fraudes, dos trambiques ou, no mínimo, das ações de favorecimento imoral. Os acusados, após desmentidos públicos – plenos de deboche – apresentam ridículas explicações para os fatos. Ou seja, após mentirem para a opinião pública e para a nação, buscam agora explicar o inexplicável. E o fazem sem reconhecer qualquer nesga de culpa. Infelizmente, a mentira estava com os acusados. Reagiram, negaram fatos e qualquer tipo de envolvimento. Mas a verdade é que a corrupção existe e os responsáveis são ocupantes de importantes funções públicas.

E isto é grave porque demonstra que a corrupção, lamentavelmente, tomou conta dos meandros da administração pública brasileira.

Quanto ao Partido dos Trabalhadores e sua cúpula dirigente – tardiamente defenestrada do comando partidário – é deplorável que tenham enveredado por caminho de tantos negócios escusos e, mesmo, criminosos. Sua base partidária, que tanto lutou para que tivéssemos um governo progressista, transformador e comprometido com a Ética, não merecia tamanha traição aos ideais de um partido política forjado no combate à ditadura, à desigualdade social e à corrupção.

Não há como explicar – muito menos justificar – os dois empréstimos avalizados pelo empresário Marcos Valério ao Partido que governa o Brasil. Não só avalizou, como pagou parte da dívida. Ainda mais, intermediou junto aos Bancos a concessão dos dois emréstimos, porque até então nenhuma instituição bancária arriscava emprestar dinheiro para qualquer partido. Isto constitui evidência de que o PT mantinha relações espúrias com um publicitário apontado como o PC Farias do atual governo federal.

Não há como justificar os mais de 500 milhões de propaganda pagos por empresas estatais ao empresário Marcos Valeiro, agora apontado como o operador do Mensalão, eufemismo dado aos atos de corrupção ativa e passiva, envolvendo PT e diversos parlamentares. E isto é muito grave.

A prisão do asssessor do irmão de José Genoíno, carregando mais de 400 mil reais em dinheiro vivo, é um fato que deixou a opinião pública e os próprios militantes do PT estarrecidos. A prisão representou um golpe de misericórdia no tênue fio de esperança que boa parte da nação ainda sustentava em relação à postura do presidente do partido político no poder. Afinal, a biografia de José Genoíno - ex-guerrilheiro que enfrentou com armas o regime militar e velho militante do Partido dos Trabalhadores – sempre foi merecedora de admiração. Pessoalmente, sempre tive simpatia pelo velho guerreiro petista, agora desmoralizado por sua vinculação a um empresário da publicidade corrupta e corruptora.

Genoíno pode não estar diretamente envolvido no episódio da mala com mais de 200 mil reais em dinheiro e de uma cueca de mais de 100 mil dólares. Porém, pela relação do assessor preso com o deputado-irmão, fica muito difícil dissociar José Genoíno de mais esse fato criminoso. E, principalmente, pela explicação dada à Polícia pelo assessor preso em flagrante: o dinheiro era resultado da venda de verduras e legumes.

Temos assistido a um intenso e descarado festival do deboche da corrupção. Virou moda corruptos e delinqüentes desdenharem da opinião pública, das autoridades policiais, parlamentares e, mesmo, judiciárias com explicações absurdas ou ridículas diante de fatos e provas de ações criminosas.

Um funcionário dos Correios, mesmo flagrado com a mão em 3 mil reais, negou que estivesse recebendo propina da corrupção; o ex-governador Paulo Maluf, diante de documentos bancários comprovando a evasão de divisas de origem ilícita, rasgou o seu conhecido sorriso de escárnio para negar a sua própria assinatura. Valdomiro Diniz, também filmado numa conversa de verdadeira extorsão de recursos financeiros, envolvendo Loterias no Rio de Janeiro, negou que fosse ele o personagem do filme. Da mesma forma, o publicitário do PT Marcos Valério negou que tivesse feito qualquer transação financeira com o PT.

Ninguém reconhece o erro; ninguém admite sua culpa. Nenhum dos envolvidos mostra qualquer sentimento de remorso ou de arrependimento. Ninguém quer colaborar com a República e revelar os seus e os atos de corrupção dos demais envolvidos. Somente Roberto Jefferson, cuja biografia política é das piores. Daí a necessidade e a dificuldade de se desmascarar essa quadrilha imensa que assaltaou a administração pública brasileira.

Aos 25 anos de existência, o PT abandonou o compromisso com a mudança e com a ética. O estrago causado à nação brasileira é profundo, porque perdemos o referencial ético. Nenhum país democrático alcança o necessário estágio de bem estar social, sem ética nas ações políticas, seja na esfera privada, seja na área da administração pública.

Se antes, o povo já não acreditava na moralidade das ações do Estado, agora com o governo do PT a situação deteriorou-se de tal forma que será preciso muito tempo para restaurar, com os fios da honestidade e da moralidade, o tecido da política estatal.

A meu ver, este é o pior legado do governo do presidente Lula à vida e à História política da nossa República.

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Como citar o texto:

LEAL, João José..Corrupção e Mentiras. Boletim Jurídico, Uberaba/MG, a. 2, nº 135. Disponível em https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/etica-e-filosofia/693/corrupcao-mentiras. Acesso em 19 jul. 2005.

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